segunda-feira, 14 de março de 2011

CHIQUINHA



  Chiquinha, era como se chamava, tinha pernas curtas, rechonchudas. Quando nos conhecemos já não era mais criança e tudo que fazia corria solto, eu que sempre pensava em tudo me espantava: coisa estranha, andar sem saber para onde se ia...
  Chiquinha morreu. Morreu queimada ou asfixiada, morreu dormindo ou desmaiada. Espero que sim, que não tenha, ainda em sonhos estranhos, aberto seus olhinhos miúdos e visto a labareda na tomada. Espero que não tenha tossido o plástico, o fio, a madeira e a cortina. Espero que não tenha tido tempo para o susto, antes da fumaça afundá-la no escuro, sem escapatória.
   Espero, mais ainda, que não tenha visto a cama em chamas, o cabelo encrespando, a carne estalando e a pele derretendo. Mas, mais que tudo, espero que não tenha percebido, sequer previsto, nem por um instante imaginado, os ossos retorcidos que encontrei em nosso quarto.

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