segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Caro C.,



    A minha casa não foi tomada. Se corri pelos cômodos, trancando portas, batendo janelas foi para não ver a pintura que escorria, ou os retratos em voo curto, indo-se os pregos que os sustentavam. Nem as paredes secas vertidas em chão de estiagem. Trincas rebentando, subindo ao forro, descendo ao piso; azulejos estourando, nuvem de cacos.
    Se corri pelos cômodos, trancando portas, batendo janelas, foi para não respirar os tijolos, agora terra vermelha, ou cair junto aos pilares, esses montes de pedra, nem ouvir ao longe as telhas rebentando. E não, foi para não tomar essa chuva que fez de tudo lama.
    Corri por não corredores, por não quartos, por não salas. Não cruzei o batente de entrada: já não havia, nem para a última vez. Alinhei-me aos escombros em uma espera de não querer e fitei o poente desse espaço aberto às sombras.
    Não, minha casa não foi tomada. Temo agora invasores ou fantasmas?